"Minha história nunca poderá ser contada.
Escrevo isso várias e várias vezes, onde quer que consigamos abrigo.
Escrevo sobre o que não posso falar: a verdade.
Escrevo sobre tudo o que sei.
Então, lanço as páginas ao vento.
Talvez os pássaros possam lê-las."
Se Eleanor é a vampira melancólica que escreve sua verdade em folhas soltas e as entrega ao vento, sua mãe Clara é o oposto absoluto: uma femme fatale de salto agulha e batom vermelho, que sustenta a família (leia-se: o pequeno clã vampírico de duas pessoas) com dentes escondidos e unhas afiadas — não para sugar sangue, mas para arrancar dinheiro mesmo.
Neil Jordan filma Clara como um quebra-cabeça sedutor: pernas, lábios, curvas e sombras. Cada cena parece gritar “olhe para mim!” antes de desaparecer num mar de néon, bordéis sufocantes, parques abandonados, cachoeiras de sangue e corvos dramáticos. É um delírio gótico cuidadosamente coreografado, onde até as decapitações têm um quê de poesia.
Apesar da estética operística, o coração do filme pulsa no drama entre mãe e filha. Bizâncio é, na essência, um rito de passagem cheio de vísceras: Eleanor quer crescer, mas o ninho é um bordel e o vôo envolve confrontar a imortalidade e o uso do corpo como moeda. Para Clara, sexo é ferramenta. Para Eleanor, é tabu. E entre uma cabeçada emocional e outra, vamos descobrindo que o verdadeiro terror aqui não são os vampiros — é a intimidade.
Este é o primeiro de uma série de posts sobre filmes de vampiros. Verdadeiros filmes de vampiros — e não aquela criancice pálida e cintilante chamada Crepúsculo.