Não me apaixonei pela literatura — fui sequestrado por ela. Fui arrastado para esse mundo não por vontade própria, mas por uma dessas obrigações que a vida impõe com um sorriso sarcástico. E ali, entre páginas empoeiradas e autores perturbados, descobri que algumas prisões têm janelas para o infinito.
Na juventude, devorava livros como quem foge de um incêndio — ou talvez como quem corre em direção a um. Cinquenta por ano, às vezes mais, numa tentativa desesperada de escapar do banal. Hoje, leio menos, mas continuo faminto. A diferença é que aprendi a saborear a escuridão.
Izanagui não é um pseudônimo. É uma entidade. Eu sou apenas o invólucro socialmente aceitável — aquele que paga contas, sorri em reuniões e finge normalidade. Izanagui, por outro lado, é o que mora no porão. Criativo, melancólico, ocultista, pessimista... uma espécie de escritor-fantasma que me possui quando o mundo fica silencioso.
Sou médium do que escrevo. As palavras não são minhas — são dele. Eu apenas digito.
Há mais de vinte anos, tento terminar um romance de vampiro. Ele muda de forma, me engana, ri de mim. Às vezes acho que é ele quem me escreve. Enquanto isso, dou vida a contos, poesias e devaneios inspirados nos meus santos de altar: Azevedo, Lovecraft, Poe. Meus textos são filhos bastardos deles — misteriosos, melancólicos e, por vezes, tão falhos quanto humanos.
Já tenho um livro de contos esperando a hora certa de emergir. Participo de concursos como quem invoca demônios: com cautela, ironia e a esperança de encontrar algo pior do que eu mesmo.
Escrever, pra mim, não é vaidade. É sobrevivência. Minha loucura precisa escapar por algum lugar, e as palavras são os únicos portais que encontrei. Às vezes penso que não escrevo para ser lido — escrevo para que não me leiam por dentro.
Minha carreira literária ainda engatinha, tropeçando no escuro. Mas sigo. Porque sei que é ali, na sombra, onde as melhores histórias se escondem. E eu tenho uma lanterna — trêmula, mas teimosa.