Post Scriptum Izanagui
Já morri em romance, ressuscitei nos contos — sigo em poemas inacabados.
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Meu Diário
23/05/2025 03h00
FENÔMENOS ONÍRICOS #4 - Estado Hipnagógico

Você está quase dormindo. Aquela fase gostosa em que o corpo derrete no colchão, os pensamentos viram sopa e o mundo começa a sumir. Mas então... você escuta alguém chamando seu nome. Uma voz nítida, do lado da cama. Ou vê uma figura passar rápido no canto do olho. Mas está tudo trancado, tudo escuro. E você está sozinho. Pelo menos, acha que está.

Parabéns: você entrou no estado hipnagógico, um tipo de zona crepuscular da consciência onde o cérebro já desligou metade das luzes, mas ainda mantém a porta da percepção entreaberta. É nesse momento que alucinações visuais, auditivas e táteis podem aparecer — e o mais divertido: a pessoa ainda tem uma certa consciência do que está acontecendo. Ela só não pode fazer muita coisa a respeito.

Cientificamente, tudo muito explicável: uma transição entre a vigília e o sono, onde o cérebro começa a sonhar antes de perder a lucidez. Mas do ponto de vista do terror... é ouro puro.

Imagine um personagem que, toda vez que começa a adormecer, vê os mesmos olhos se abrindo no teto. Ou ouve uma voz que revela segredos que ele não poderia saber. Ou sente alguém deitando ao lado dele — e sussurrando coisas em uma língua que ele nunca aprendeu.

O estado hipnagógico é aquele aviso sutil do cérebro: “boa noite... e boa sorte.”

 

 

Publicado por Izanagui
em 23/05/2025 às 03h00
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22/05/2025 03h00
FENÔMENOS ONÍRICOS #3 - Paralisia do sono

Sabe aquele instante delicioso em que você acorda de madrugada, com o corpo paralisado, os olhos arregalados, e a leve impressão de que tem algo no quarto com você? Pois é. Bem-vindo à paralisia do sono — um tipo de “brinde” que o cérebro dá quando resolve ligar a consciência antes de devolver o controle remoto do seu corpo.

Durante esse fenômeno, você está acordado, mas não consegue se mover. Enquanto tenta entender por que virou uma estátua de cera, percebe uma presença ao lado da cama. Às vezes, é uma sombra parada no canto. Às vezes, é alguém sentado no seu peito (romântico, não?). E às vezes, é só o gato. Mas você nem tem gato.

A ciência garante que isso tudo é normal: uma falha entre o sono REM e a vigília. Mas escritores de terror sabem a verdade: é um presente divino. Uma situação perfeita para fazer o leitor suar frio. Imagine o protagonista preso no próprio corpo, ouvindo passos. Sentindo o colchão afundar. E percebendo, bem devagar, que aquilo que o observa... sorri.

Quer inspiração para um bom conto de horror? Paralisia do sono é o ponto de partida ideal: você nem precisa inventar o medo — ele já vem incluso no pacote, com brinde e tudo.

 

 

 

 

 

 

Publicado por Izanagui
em 22/05/2025 às 03h00
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21/05/2025 03h00
FENÔMENOS ONÍRICOS #2 - Hiper-realismo onírico

Você já acordou com a sensação de que viveu algo tão real, mas tão absurdamente real, que a única explicação plausível seria: “morri e fui substituído por uma versão alternativa de mim mesmo durante a noite”? Pois bem. Seja bem-vindo ao deliciosamente perturbador mundo do hiper-realismo onírico — aquele estágio avançado dos sonhos onde você não apenas vê coisas bizarras, mas também sente com um nível de detalhe que faria um massagista sueco suar frio.

Aqui, meus caros, não estamos falando de devaneios leves com unicórnios, nem daquelas tramas eróticas mal resolvidas com celebridades. Estamos tratando de sonhos onde você encosta na parede úmida de uma caverna e sente o limo entre os dedos. Onde um corte feito por uma faca invisível que aparece sabe-se lá de onde realmente arde — e o pior: às vezes, você acorda e jura que a cicatriz está lá. Talvez esteja. Talvez não. Boa sorte conferindo no espelh

Para escritores de contos, esse fenômeno é um presente embrulhado em papel de loucura. É como dar ao seu personagem um passe livre para entrar num universo em que a realidade tem cheiro, gosto, dor — e nenhum compromisso com a lógica. Você pode fazer um sujeito sonhar que queima a mão numa grelha, e depois acordar com a pele marcada. É exagerado? Sim. É instigante? Com certeza. E o mais legal: você nem precisa explicar. Porque no território do hiper-realismo onírico, a explicação só atrapalha.

Esse tipo de narrativa permite brincar com o que há de mais humano: o medo de não saber se estamos acordados ou apenas presos num sonho meticulosamente tramado por um cérebro entediado. E quando você escreve a partir desse lugar — onde o real se ajoelha diante do surreal — o leitor não apenas acompanha, ele sente. E sente com aquela mistura inconfundível de fascínio e pânico, como quem percebe que entrou no pesadelo errado, mas que talvez goste da decoração.

Então, da próxima vez que acordar suando frio por ter sonhado que foi empalado por uma estátua de mármore com olhos humanos, não corra para o terapeuta. Corra para o teclado. Há um conto pedindo para nascer. E a parede do sonho ainda está ali, esperando seu toque.

 

 

Publicado por Izanagui
em 21/05/2025 às 03h00
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20/05/2025 03h00
FENÔMENOS ONÍRICOS #1 — Falsa Memória Onírica

Ele acordou com a certeza absoluta de que havia aprendido a voar. Não como um super-herói de blockbuster, claro — era algo mais modesto, uma espécie de levitação doméstica. Um metro do chão, no máximo. Mas era real. Ele se lembrava do esforço abdominal, do leve zumbido no ouvido, da sensação triunfante de flutuar pelo corredor sem encostar os pés no chão.

Tudo parecia absurdamente real. Até que veio o café da manhã. Ninguém mais se lembrava de nada — porque, claro, nada disso havia acontecido.

Essa é a natureza perversa da falsa memória onírica: sonhos que acordam junto com a gente, vestindo a pele da realidade. É quando o cérebro, talvez entediado, decide que uma fantasia noturna merece ser arquivada como fato.

Para autores de terror e fantasia, isso é ouro puro. Imagine um personagem que, certo de ter vivido algo enquanto dormia, começa a agir com base nessas falsas lembranças. Um pacto, um assassinato, um segredo revelado. Ou... superpoderes. E se ele estiver errado? Melhor: e se ele estiver certo?

A falsa memória onírica é como um sonho que se recusa a aceitar que acabou — e às vezes, o mundo também não tem tanta certeza assim.

 

Publicado por Izanagui
em 20/05/2025 às 03h00
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19/05/2025 19h10
Meu processo criativo

Nos recônditos insondáveis de minha mente febril, reside um impulso irrefreável: escrever (mas nem tanto). Não se trata meramente de um passatempo, mas de um ritual quase profano, no qual invoco imagens, suspiros e horrores de uma dimensão inominável. Quando rabisco minhas histórias, por um instante ilusório, sinto-me liberto das correntes vulgares da realidade, como se pudesse espiar por entre os véus da existência e tocar, com dedos trêmulos, a própria tessitura do divino. O que sinto ao escrever é análogo àquele instante primordial em que Adão, ainda na aurora da criação, percebeu o peso e a glória de ter sido moldado à semelhança de seu Criador—antes de descobrir que o paraíso, assim como a sanidade, é transitório.  

Minha predileção pelo sobrenatural não se dá por acaso. A previsibilidade da realidade me exaspera—esse eterno ciclo de dias medíocres, onde o maior mistério é decidir entre café ou capuccino. Em vez disso, deleito-me com os espaços vazios, os sussurros que não têm fonte e os vultos que espreitam na penumbra. Prefiro narrativas onde a verdade se dissolve como névoa e onde o narrador não é um guia confiável, mas um sobrevivente surrado, um lunático murmurando sua história entre soluços, ou um mero recipiente de uma carta amareladas. Quero que o leitor, ao terminar minha história, não tenha certeza de nada—exceto da inquietante possibilidade de que tudo pode ser verdade.  

Minhas inspirações vêm de fontes inusitadas. Um sonho perturbador, uma canção que ecoa em tonalidades além da compreensão humana, uma velha superstição sussurrada por lábios enrugados, um vídeo de internet que talvez tenha sido uma alucinação. Raramente são minhas próprias emoções que moldam a essência de uma história—exceto quando uma melodia adocicada e melancólica me sussurra segredos de amores que jamais deveriam ser.

As ideias nascem, crescem e incubam-se dentro de mim como criaturas adormecidas nas profundezas de um lago estagnado. Quando finalmente emergem, escrevo uma sinopse caótica, desordenada, como se fosse um profeta em delírio. Só depois busco organizar a estrutura, domando o caos com títulos provisórios, tópicos e descrições. Mas a verdadeira escrita acontece em transe, os dedos dançando pelo teclado como se guiados por forças invisíveis, num êxtase quase automático. Só depois, quando o horror já está devidamente entronizado, permito-me lapidar as palavras—e então vem o momento de transformar algo comum, como "naquele dia o céu estava cinza e frio", em algo digno da lápide de um poeta maldito:  

"Aquele dia amanheceu sob um firmamento doentio, onde nuvens pesadas rastejavam como cadáveres celestes, sufocando a luz e espalhando um frio espectral, tão gélido quanto o hálito de uma tumba recém-aberta."

Sim, admito: possuo, secretamente, uma planilha profana, um compêndio de adjetivos lúgubres e substantivos espectrais, extraídos dos meus mestres literários. Um repositório amaldiçoado, ao qual recorro sempre que minha alma, por demais otimista e ensolarada para o ofício, precisa de auxílio para evocar horrores inomináveis e belezas fúnebres.  

Sei que meu estilo pode ser considerado prolixo, denso e desnecessariamente elaborado. Mas, sinceramente, vejo isso como um mérito. Pois não ouso comparar-me aos titãs do horror e da melancolia. Prefiro pensar que sou uma aberração experimental, um protótipo falho e disforme de Lovecraft, Poe e Álvares de Azevedo—um pastiche grotesco que, ao menos, se diverte no abismo.

 

 

Publicado por Izanagui
em 19/05/2025 às 19h10
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