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Já morri em romance, ressuscitei nos contos — sigo em poemas inacabados.
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06/06/2025 03h00
Filmes vampirescos #5: Nosferatu (2024)

Assisti a Nosferatu (2024) dentro de um avião, espremido entre um senhor que roncava como um javali possuído e uma criança que chutava o assento como se invocasse demônios. Mesmo assim, saí da sessão arrependido — arrependido de não ter visto esse filme no cinema, onde a escuridão pesa mais e o som te engole junto com os gritos.

 

Robert Eggers, aquele diretor que parece ter um pacto com o oculto desde A Bruxa, decidiu ressuscitar um cadáver muito especial: o Conde Orlok, o vampiro esquelético e amaldiçoado do cinema expressionista. Mas antes que alguém pergunte: sim, Nosferatu é basicamente Drácula disfarçado com outro nome porque, em 1922, o pessoal não pagou os direitos autorais e tentou passar batido. Resultado? Processo da viúva de Bram Stoker e ordem de queimar todas as cópias do filme. (Spoiler: não queimaram. O horror venceu.)

 

Agora, mais de um século depois, Eggers pega essa múmia cinematográfica e lhe dá nova vida — ou melhor, nova morte. Ambientado na Alemanha do século XIX (época ideal pra gótico ficar bem gótico), o filme segue Ellen (Lily-Rose Depp), uma jovem linda, frágil e perturbada, que atrai a obsessão sinistra do vampiro Conde Orlok (Bill Skarsgård, assustador o suficiente para você querer dormir com alho debaixo do travesseiro). Nicholas Hoult completa o triângulo como Thomas Hutter, o típico marido que não percebe o mal rastejando pela porta até ser tarde demais.

 

A estética? É de encher os olhos de trevas: fotografia sombria, sombras afiadas como estacas, e uma direção de arte que parece saída direto de um pesadelo elegante. Eggers e o diretor de fotografia Jarin Blaschke conseguiram transformar cada cena num quadro lúgubre — mesmo no assento 23B com turbulência, aquilo era lindo.

 

Bill Skarsgård está monstruoso no papel — no melhor dos sentidos. Seu Orlok é pavoroso, inumano e ainda assim trágico, como todo bom vampiro deve ser. Já Lily-Rose Depp entrega uma Ellen que mistura vulnerabilidade e abismo emocional. Tem uma cena perto do final em que ela encara o Nosferatu e, num sussurro carregado de emoção, diz “More”... e, olha, eu arrepiei até a alma.

 

Claro, nem tudo são rosas murchas: o ritmo é lento, o clima é pesado, e tem quem ache que Eggers poderia ter ousado mais. Mas quem entra em Nosferatu esperando pipoca e ritmo de TikTok, errou de cemitério.

 

Em resumo: um filme elegante como um funeral vitoriano, aterrador como um sussurro ao pé do ouvido às 3 da manhã, e belo como a primeira mordida de um pescoço inocente. Recomendado para quem ama o horror com classe — ou pelo menos gosta de ver o romantismo morrer em grande estilo.

 

 

Publicado por Izanagui
em 06/06/2025 às 03h00
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