Post Scriptum Izanagui
Já morri em romance, ressuscitei nos contos — sigo em poemas inacabados.
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Meu Diário
17/06/2025 03h00
Fatos verídicos #002: As correntes na ferrovia

Dizem que na zona rural, as coisas andam soltas demais de madrugada.
O tio do meu concunhado sabia disso — por isso levava a lanterna e a coragem sempre que ia inspecionar os trilhos da linha férrea, mesmo tarde da noite.

Naquela noite, ele caminhava sozinho pelos trilhos, como sempre fazia.
O vento assobiava fraco entre as árvores, e só se ouvia o farfalhar dos seus próprios passos.

Até que ouviu.

CLANG... CLANG... CLANG...

Um barulho metálico se arrastando pela estrada de terra ao lado.
Correntes.
Arrastando.
Lentas.
Sem passos.
Sem voz.

Ele não viu.
Não quis ver.

Se jogou no mato, se escondeu entre as sombras das folhas e ficou ali, imóvel como bicho acuado.
A coisa passou.
Sem pressa.
Sem som de respiração.

Quando ele teve coragem de se levantar e seguir caminho até o vilarejo, já era quase amanhecer.
Mas a luz do dia não trouxe alívio.

O que encontrou foram gritos, correria, gente chorando.

Uma mulher havia sido encontrada morta.

Pendurada dentro de casa, por uma corrente.

Ninguém sabia o que tinha acontecido.

Mas o tio do meu concunhado?


Ele sabia exatamente quando foi.

Publicado por Izanagui
em 17/06/2025 às 03h00
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