Essa história aconteceu quando eu tinha 13 anos, pouco tempo depois que meu pai morreu.
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Eu dormia num quarto cuja janela dava direto pro quintal. Era uma janela baixa e larga, protegida só por uma grade de ferro e uma tela fina contra mosquitos. Nada que realmente separasse o mundo de dentro do mundo de fora.
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Foi então que, por três madrugadas — não consecutivas, o que deixava tudo ainda pior — eu ouvi passos de chinelo andando no quintal.
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Às vezes devagar.
Às vezes correndo.
Às vezes parando.
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O pior era quando parava. Porque dava pra sentir — não ouvir, sentir — que algo estava ali. Diante da janela. Me olhando.
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O medo era tão intenso que meu corpo simplesmente desligava qualquer impulso.
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Eu não me virava.
Não tossia.
Nem coçava uma picada de mosquito.
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Eu tinha a sensação absurda de que, se eu me mexesse apenas um centímetro, ele saberia que eu estava acordado.
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E o que aconteceria depois disso…
Eu preferia não saber.
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Passei as noites assim.
Paralisado.
Insone.
Esperando o céu clarear e os sons morrerem com o sol.
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Quando amanhecia, eu vasculhava o quintal procurando algum objeto, alguma peça solta, qualquer coisa que pudesse ter feito aquele som zombeteiro de chinelos arrastando.
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Nunca encontrei nada.
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Anos depois, eu ainda não sei o que foi.
Talvez fosse só um ladrão andando na calçada, com o som ricocheteando nos muros e janelas, invadindo o meu quarto como um sussurro mal-intencionado.
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Talvez.
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Mas naquelas noites, o som não parecia vir da rua.
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Ele parecia tão próximo quanto a minha nuca.
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