Post Scriptum Izanagui
Já morri em romance, ressuscitei nos contos — sigo em poemas inacabados.
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Meu Diário
19/06/2025 03h00
Fatos verídicos #003: Passos no quintal

Essa história aconteceu quando eu tinha 13 anos, pouco tempo depois que meu pai morreu.

Eu dormia num quarto cuja janela dava direto pro quintal. Era uma janela baixa e larga, protegida só por uma grade de ferro e uma tela fina contra mosquitos. Nada que realmente separasse o mundo de dentro do mundo de fora.

Foi então que, por três madrugadas — não consecutivas, o que deixava tudo ainda pior — eu ouvi passos de chinelo andando no quintal.

Às vezes devagar.
Às vezes correndo.
Às vezes parando.

O pior era quando parava. Porque dava pra sentir — não ouvir, sentir — que algo estava ali. Diante da janela. Me olhando.

O medo era tão intenso que meu corpo simplesmente desligava qualquer impulso.

Eu não me virava.
Não tossia.
Nem coçava uma picada de mosquito.

Eu tinha a sensação absurda de que, se eu me mexesse apenas um centímetro, ele saberia que eu estava acordado.

E o que aconteceria depois disso…
Eu preferia não saber.

Passei as noites assim.
Paralisado.
Insone.
Esperando o céu clarear e os sons morrerem com o sol.

Quando amanhecia, eu vasculhava o quintal procurando algum objeto, alguma peça solta, qualquer coisa que pudesse ter feito aquele som zombeteiro de chinelos arrastando.

Nunca encontrei nada.

Anos depois, eu ainda não sei o que foi.
Talvez fosse só um ladrão andando na calçada, com o som ricocheteando nos muros e janelas, invadindo o meu quarto como um sussurro mal-intencionado.

Talvez.

Mas naquelas noites, o som não parecia vir da rua.

Ele parecia tão próximo quanto a minha nuca.

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Publicado por Izanagui
em 19/06/2025 às 03h00
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