Mudem-se os ventos — mudo eu também.
Agora caminho entre caixas, livros, e ecos. Mas há um detalhe que talvez os poucos atentos apreciem: do novo endereço, bastam oito minutos de passos solitários até encontrar uma placa com um nome que queima suave na memória — Álvares de Azevedo.
Sim, ele. Meu patrono da morbidez romântica, o menino-poeta que morreu cedo demais, porque morreu tão jovem, sonhou alto demais, e escreveu como quem cuspia sangue no papel.
Dizem que viveu em São Paulo — e minha cidade, ora, está a meros 90 quilômetros dali. Teria ele passado por aqui? Respirado este mesmo ar? Visto este mesmo céu que, às vezes, parece exalar poesia e decadência em igual medida?
Duvido. O Sanatório Vicentina Aranha, que hoje ostenta as cicatrizes da febre e do tempo, só foi erguido muitas décadas após sua morte. Se tivesse existido antes… quem sabe? Talvez o poeta tivesse vivido mais uns anos. Ou morrido do mesmo jeito — mas com vista para o jardim interno.
Por enquanto, fico com a dúvida.
E com o luxo de poder caminhar até seu nome cravado na plaquinha de uma esquina qualquer — como se fosse um epitáfio disfarçado de endereço.