Ah, o Ultrarromantismo…
Esse foi o período em que os poetas brasileiros decidiram morrer antes dos 30 ou, caso falhassem, ao menos escrever como se o mundo fosse um cemitério com vista pro abismo. Nada de floresta tropical e amores campestres — aqui, temos túmulos, suspiros sufocados, moças mortas (de preferência virgens) e crises existenciais servidas com chá de ópio.
O queridinho do caos. Morreu aos 20 anos porque era coerente. Criou personagens que se masturbam em silêncio pensando na morte e idealizou mulheres que nunca existiram. Lira dos Vinte Anos é seu diário de devaneios febris, onde o tédio é mais fiel que o amor.
Foi monge por engano. Entrou no claustro pensando que ia encontrar paz, mas achou só angústia e celibato. Sua poesia parece um bilhete deixado por alguém que não aguentou a própria mente. Escrevia com fé e fúria — e às vezes as duas na mesma frase.
Imortalizou a dor de perder o filho e, de quebra, escreveu o Cântico do Calvário, que parece uma oração feita por um zumbi lírico. Meio religioso, meio bêbado de sofrimento, é um ultrarromântico com fé quebrada e coração espatifado.
O poeta que queria voltar pra infância porque viver dói. Embora seja lembrado pelas doces lembranças de “meus oito anos”, ele também sonhava com uma morte bonita, num suspiro bem escrito. Morreu aos 21 — pontual como um epitáfio.
A lagartixa lírica. Médico, pobre e poeticamente ressabiado, misturava melancolia com humor autodepreciativo. Era o tipo de poeta que suspira por amor... e depois xinga a musa em latim.
Escreveu como se cada poema fosse o último — e com ele, você nunca sabe se é. Suas palavras pingam absinto e desespero filosófico. Era amigo de Álvares de Azevedo e concorrente em número de crises existenciais por página.
O ultrarromântico que engoliu um asteroide. Começou na vibe soturna, mas depois enlouqueceu de vez e escreveu O Guesa, que é tipo Ulisses com febre. Se o tédio era o mal do século, ele preferiu a demência visionária.
Sim, o da Moreninha. Mas não se engane. Por trás do moço dos folhetins açucarados, havia um poeta que também tinha seus flertes com o espectro da dor — só que de luvas brancas e com pontuação impecável. Um ultrarromântico que passou na revisão gramatical.
O ultrarromântico menos lembrado da classe. Escreveu como quem grita do fundo do poço, mas ninguém escutou. Suas poesias ecoaram brevemente entre túmulos literários e revistas imperiais. Hoje, é lido por estudiosos, espíritos cultos e você, caso tenha chegado até aqui.
O Ultrarromantismo brasileiro é como um clube secreto onde só entra quem já se despediu da alegria e tem um pacto com a melancolia. Poetas jovens, pálidos, geniais e terrivelmente trágicos. Se a vida era um fardo, eles carregaram com estilo — e métrica.
P.S. de verdade:
Se você se sente deslocado(a), dramático(a), ou sonha com a morte em versos decassílabos... seja bem-vindo(a) ao meu blog www.psizanagui.com — onde a luz apaga mais cedo e a literatura sempre sangra um pouco.