Post inaugural. Ousadia vã: tentei abrasileirar O Corvo de Poe. Fracassei com estilo, espero.
O Corvo e a Noite
Numa noite fria e escura, enquanto o mundo adormecia,
Eu vagava entre os livros, onde a mente se perdia,
Mas eis que um ruído estranho rompe o torpor da solidão,
Um bater de asas negras — sonho? Ou maldição?
Levantei-me, trêmulo e pálido, fitando o vão sombrio,
E lá, sobre a porta, como um espectro frio,
Vejo a ave funerária — corvo negro e desalmado,
Com olhar de quem conhece o que é sofrer calado.
"Que buscas na minha noite? Que mistério em ti se faz?"
E a ave, como sentença, apenas disse: "Nunca mais."
Ah, palavra amarga e fria! Gume cruel do destino,
Que corta o peito em sombras como lâmina do divino!
"Não há trégua para a dor? Não há cura para amar?"
Mas o corvo, impassível, volta a murmurar:
"Nunca mais!" — disse ao vento, como um triste adeus final,
E deixou-me ali sozinho, prisioneiro do meu mal.
Ainda o vejo sobre a porta, com seu peso de agonia,
Como a morte que vigia a última luz do dia.