Post Scriptum Izanagui
Já morri em romance, ressuscitei nos contos — sigo em poemas inacabados.
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Meu Diário
13/06/2025 03h00
Lenda da Pedra do Sino

Segundo antigos habitantes de Ilha Bela (descendentes diretos de tribos que diziam ter vindo “do mar e do céu”), as pedras foram um presente dos primeiros deuses, entidades sem forma que ensinavam o silêncio e o som como ferramentas de poder.

Quando os deuses abandonaram a Terra, deixaram ali os órgãos de escuta da ilhafragmentos do Mumetal, que vibram não com o toque físico, mas com a intenção do som.

Essas pedras escutam há milênios. E quando tocadas da maneira certa, devolvem um eco antigo, muitas vezes mais velho do que o próprio oceano. Acredita-se que esse som é:

  • Um chamado dos que vieram antes;
  • Ou um sinal de que a ilha ainda está viva, sonhando com os que ali pisam;
  • Ou mesmo a lembrança de Mu, transmitida por fragmentos dispersos do seu mineral vivo.

Quando duas pessoas:

  • Cantam uma melodia perdida;
  • E fazem isso próximas à Pedra do Sino...

...o som gerado não ecoa no ar, mas nas marés, nos pensamentos e até nas pedras menores ao redor.

O fenômeno é chamado por alguns ocultistas de:

"O Terceiro Som" — um som que não foi emitido, mas que mesmo assim se faz ouvir.

Publicado por Izanagui
em 13/06/2025 às 03h00
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08/06/2025 03h00
Cem réis e um suspiro do passado

Hoje adquiri um pedaço de tempo.

Uma moeda de 100 réis, datada ainda dos dias do Império, veio repousar entre meus dedos — leve como a memória, fria como a morte. De bronze escurecido, ela carrega no verso o símbolo da coroa; no anverso, apenas um número cercado por arabescos que o tempo não ousou apagar.

Mas não é só metal. É relíquia.

E, num devaneio inevitável, pus-me a imaginar: o que teria feito com essa moeda o meu melancólico mestre da pena, Álvares de Azevedo?

Talvez a deslizasse entre os dedos pálidos enquanto esperava um café ralo no Café Noite na Taverna, buscando inspiração entre tosses e cigarros. Ou então a trocaria por uma pena nova, para rasgar o papel com versos sobre sepulturas floridas e amores impossíveis. Cem réis, naquela década de 1850, talvez bastassem para comprar um doce, um jornal ou um lampejo de calor humano num bordel de esquina — quem sabe um beijo pago à musa de seu último soneto.

Imagino-o lançando a moeda ao ar, perguntando-se se viveria mais um dia ou se seria, enfim, consumido pela tísica e pelo tédio.

Hoje, ela está aqui, sobre minha mesa, entre um copo de vinho barato e uma vela apagada. Não vale nada — e vale tudo.

Porque com ela comprei um instante de poesia, um delírio imaginado, um encontro impossível com o poeta que morreu aos 20 anos, mas vive ainda em cada sombra deste blog.

 

 

Publicado por Izanagui
em 08/06/2025 às 03h00
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07/06/2025 03h00
Meu pequeno milagre profrano

Este é o meu primeiro livro. Ou melhor, meu primeiro livreto de invocação solitária — apenas 24 páginas, mas cada uma delas pulsa como um pequeno coração negro no peito de um filho bastardo das trevas. Sim, eu o amo. Mesmo que ninguém mais o leia. Mesmo que ele apodreça esquecido numa gaveta empoeirada... ao lado de um dente humano e uma fita cassete amaldiçoada.

 

Ainda vai passar por ajustes, claro. A figura da capa precisa de um toque mais etéreo, mais fosco, como se tivesse sido desenhada com cinzas de sonhos esquecidos. E um título? Ah, sim... ele existirá — mas escondido, sussurrado apenas na primeira página. Não na capa. Jamais na capa.

 

Capa é altar. É pecado gravar letras nesse relicário visual. A imagem é tão bela (para meus olhos contaminados) que escrever qualquer coisa nela seria como tatuar um código de barras em um anjo caído. Não. Não farei isso.

 

Não espero que venda. Não espero que me faça famoso. Eu só quero que ele exista. Que respire. Que me olhe de volta quando eu estiver velho demais pra escrever e jovem demais pra morrer.

 

Este livro é meu. E isso já é um pequeno milagre profano.

 

 

Publicado por Izanagui
em 07/06/2025 às 03h00
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06/06/2025 03h00
Filmes vampirescos #5: Nosferatu (2024)

Assisti a Nosferatu (2024) dentro de um avião, espremido entre um senhor que roncava como um javali possuído e uma criança que chutava o assento como se invocasse demônios. Mesmo assim, saí da sessão arrependido — arrependido de não ter visto esse filme no cinema, onde a escuridão pesa mais e o som te engole junto com os gritos.

 

Robert Eggers, aquele diretor que parece ter um pacto com o oculto desde A Bruxa, decidiu ressuscitar um cadáver muito especial: o Conde Orlok, o vampiro esquelético e amaldiçoado do cinema expressionista. Mas antes que alguém pergunte: sim, Nosferatu é basicamente Drácula disfarçado com outro nome porque, em 1922, o pessoal não pagou os direitos autorais e tentou passar batido. Resultado? Processo da viúva de Bram Stoker e ordem de queimar todas as cópias do filme. (Spoiler: não queimaram. O horror venceu.)

 

Agora, mais de um século depois, Eggers pega essa múmia cinematográfica e lhe dá nova vida — ou melhor, nova morte. Ambientado na Alemanha do século XIX (época ideal pra gótico ficar bem gótico), o filme segue Ellen (Lily-Rose Depp), uma jovem linda, frágil e perturbada, que atrai a obsessão sinistra do vampiro Conde Orlok (Bill Skarsgård, assustador o suficiente para você querer dormir com alho debaixo do travesseiro). Nicholas Hoult completa o triângulo como Thomas Hutter, o típico marido que não percebe o mal rastejando pela porta até ser tarde demais.

 

A estética? É de encher os olhos de trevas: fotografia sombria, sombras afiadas como estacas, e uma direção de arte que parece saída direto de um pesadelo elegante. Eggers e o diretor de fotografia Jarin Blaschke conseguiram transformar cada cena num quadro lúgubre — mesmo no assento 23B com turbulência, aquilo era lindo.

 

Bill Skarsgård está monstruoso no papel — no melhor dos sentidos. Seu Orlok é pavoroso, inumano e ainda assim trágico, como todo bom vampiro deve ser. Já Lily-Rose Depp entrega uma Ellen que mistura vulnerabilidade e abismo emocional. Tem uma cena perto do final em que ela encara o Nosferatu e, num sussurro carregado de emoção, diz “More”... e, olha, eu arrepiei até a alma.

 

Claro, nem tudo são rosas murchas: o ritmo é lento, o clima é pesado, e tem quem ache que Eggers poderia ter ousado mais. Mas quem entra em Nosferatu esperando pipoca e ritmo de TikTok, errou de cemitério.

 

Em resumo: um filme elegante como um funeral vitoriano, aterrador como um sussurro ao pé do ouvido às 3 da manhã, e belo como a primeira mordida de um pescoço inocente. Recomendado para quem ama o horror com classe — ou pelo menos gosta de ver o romantismo morrer em grande estilo.

 

 

Publicado por Izanagui
em 06/06/2025 às 03h00
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05/06/2025 03h00
Filmes vampirescos #4: Drácula de Bram Stoker 1992

Poucos filmes exalam decadência, erotismo e tragédia com tanta elegância quanto Drácula de Bram Stoker, dirigido por Francis Ford Coppola em 1992. E se você, como eu, é fã de Keanu Reeves e Winona Ryder, prepare-se: os dois brilham intensamente nesse delírio gótico, envoltos por véus, castelos e sangue. Keanu, sempre com aquele ar de herói perdido no tempo e um sotaque britânico que é quase um feitiço por si só, vive Jonathan Harker — o rapaz que entra, sem querer, na barriga do pesadelo. E Winona, com sua aura de inocência carregada de desejo reprimido, é Mina — um espírito dividido entre o amor terreno e a sedução do abismo.

 

 

 

O filme adapta com fidelidade (e uma pitada generosa de luxúria) o clássico de Bram Stoker. Aqui, Drácula — interpretado magistralmente por Gary Oldman — é um ser atormentado, apaixonado e perigosamente poético. Ele não quer apenas sangue; ele quer amor, redenção... e talvez um pouco de vingança em estilo operístico. Coppola conduz a narrativa como se estivesse montando uma missa negra em pleno teatro renascentista. Tudo é exagerado, belo e carregado de simbolismo: crucifixos, véus, sombras, rios de sangue e sussurros ao pé da tumba.

 

E claro... Monica Bellucci. Meu Deus. Monica Bellucci aparece como uma das noivas vampiras de Drácula e é, sem exagero, a própria encarnação da tentação. Sua beleza estonteante transcende o papel: ela não atua, ela hipnotiza. Aliás, é preciso ter nervos de aço (ou falta de instinto de sobrevivência) para não desejar ser devorado por ela com prazer e sem arrependimento. Bellucci não apenas rouba a cena — ela quebra as janelas, apaga as velas e nos faz esquecer do resto do elenco por um momento.

 

A trilha sonora de Wojciech Kilar eleva a experiência ao sublime. É uma ópera de sombras e paixões perdidas. Os efeitos são todos práticos, feitos à moda antiga, o que dá ao filme uma aura encantadoramente artesanal — como se cada quadro tivesse sido pintado com sangue e seda.

 

E pra quem ainda não viu (ou quer reviver), deixo aqui uma pequena oferenda: um videoclipe feito por fãs ao som de “Sequel of Decay”, da banda Tristania. A música, com seus vocais fantasmagóricos e atmosfera lúgubre, combina perfeitamente com as imagens do filme. É como abrir um grimório à luz de velas, enquanto lá fora chove sangue e o amor morre lentamente num abraço apertado demais.

 

Drácula de Bram Stoker não é apenas um filme — é uma paixão maldita em forma de cinema. Uma elegia à luxúria, à saudade e à beleza que nos destrói. Veja. Entregue-se. E lembre-se: alguns amores nunca morrem. Outros... apenas dormem dentro de um caixão, esperando a hora certa para morder de novo.

 

 

Publicado por Izanagui
em 05/06/2025 às 03h00
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